O Desaparecimento da Excelência Desportiva: Como as Academias Portuguesas Estão a Perder uma Tradição?

Nos últimos anos, tem-se assistido a uma preocupante tendência: o declínio do investimento e reconhecimento no desporto de alto rendimento nas instituições académicas portuguesas. Este artigo explora como os antigos ISEFs (Institutos Superiores de Educação Física), berços de talentos e referências na formação desportiva, estão a ser progressivamente esquecidos, com consequências significativas para o futuro do desporto em Portugal.
Desde a década de 70, os ISEFs de Lisboa e Porto (e outras designações iniciais) desempenharam um papel crucial na formação de atletas e técnicos de excelência. Estes institutos não eram apenas centros de ensino, mas verdadeiros laboratórios de inovação e desenvolvimento desportivo, onde se formaram campeões e se lançaram projetos que marcaram a história do desporto português. A sua abordagem multidisciplinar, que combinava teoria e prática, e a forte ligação com os clubes e federações desportivas, garantiam uma formação completa e adaptada às necessidades do mercado.
No entanto, com as mudanças no sistema de ensino superior e a crescente ênfase na investigação académica, os ISEFs foram gradualmente desvalorizados e integrados em outras faculdades. Esta integração, embora visasse uma maior abrangência e modernização, acabou por diluir a sua identidade e especialização desportiva. O investimento na formação desportiva diminuiu, os programas de estudo foram alterados e a ligação com o mundo do desporto profissional enfraqueceu.
As consequências desta situação são diversas e preocupantes. A falta de formação especializada dificulta a identificação e o desenvolvimento de novos talentos. A ausência de técnicos qualificados compromete a qualidade do treino e a preparação dos atletas. A perda de referências e modelos de sucesso desmotiva os jovens praticantes. E, em última análise, o desporto português perde em competitividade e capacidade de inovação.
É urgente reverter esta tendência e valorizar novamente o papel das instituições académicas na formação desportiva. É necessário investir na criação de programas de estudo especializados, que combinem teoria e prática, e que estejam alinhados com as necessidades do mercado. É fundamental fortalecer a ligação entre as universidades, os clubes e as federações desportivas, promovendo a colaboração e a troca de conhecimentos. E, acima de tudo, é preciso reconhecer e valorizar o trabalho dos técnicos e formadores desportivos, que são os verdadeiros responsáveis pela formação de novos campeões.
O futuro do desporto português depende da nossa capacidade de preservar e fortalecer a tradição de excelência que se construiu nos ISEFs. É hora de acordar e agir, antes que seja tarde demais.